Como já me disseram, não tenho um quarto, tenho um home office, e nele, como um escritório que se preze, há um grande armário de estrutura metálica, portas duplas de madeira e, é claro, chave. Dentro dele guardo documentos, papéis da faculdade e toda sorte de coisas que não sei onde poria ou que não devo pôr em locais de fácil acesso.
Ele tinha uma organização muito boa há cinco anos atrás quando fiz a última arrumação, fato ocorrido após a minha saída total e definitiva do grupo. A reestruturação da vida naturalmente impelia para avaliar o que eu tinha guardado lá e mudar tudo de lugar a partir de novos valores pessoais.
Meu armário não estava precisando de uma grande arrumação, estava ainda bem organizado visualmente, ou o bastante para apenas necessitar de uma mexida de leve. Mas preferi começar uma espécie de "juízo final" olhando tudo que tinha lá, lembrando, avaliando, julgando. Vi que os materiais com mais de 5 anos estavam mais densos, mais pesquisados. O que é natural em razão da intensa vida intelectual que eu levava naquele período. A substituição disso por uma vida mais "normal" não poderia deixar de causar também uma maior simplicidade e, sim, superficialidade.
Cada papel que eu encontrava lá era um pequeno fragmento meu; cada um produzia como que um pequeno conto e mesmo que cada conto tenha um início e um fim em si mesmo, eles tinham algo que os unia para formar minha história pessoal, com vitórias e tragédias. Parodiando os jargões dos historiadores: a história universal do meu armário. E como havia coisas de história nesse armário! Coisas que li, coisas que devia ter lido, coisas que estavam pela metade, pela terça parte, pelo começo...coisas que não deviam ter existido.
Agora, cinco anos após a última grande arrumação - não apenas no meu armário- e dez anos a após outra reestruturação, fico com a esperança de que terei outros cinco bem diferentes dos últimos...
Nenhum comentário:
Postar um comentário