quinta-feira, 8 de julho de 2010

Do dizer e do não dizer

Alguns momentos da vida são tão ricos de sentimentos e significados que fica difícil colocá-los num texto, primeiro porque tudo parece a princípio, confuso, mesmo que isso seja apenas uma limitação da razão; segundo porque tentar separá-los é um ultraje à comunhão interior em que eles se encontram e terceiro porque pode, em um bom momento, se assemelhar a matar algo só para saber o que tem dentro.

Tentar falar ou escrever qualquer coisa significa, antes de mais nada, fazer uma mediação, uma conversão, trocar a essência de algo por outra coisa. As palavras, o discurso precisam seguir uma linearidade, uma ordem que se assemelha a uma fila, palavra atrás de palavra. Isto é uma transformação tão radical do emaranhados de sentimentos que seu resultado pode se tornar, às vezes, apenas uma farsa. Os sentimento possuem outra forma, não-linear, se penetram, coexistem com opostos, sintetizam-se, harmonizam-se, escapam à organização e ao princípio de identidade tão fundamental para qualquer discurso.

Além disso, unidos se alimentam um dos outros como em um ecossistema complexo, todos concorrendo para potencializar a existência do conjunto, de uma tal forma, que já não se sabe o que é um e o que é outro, transformando-se em algo único, uma outra hipótese gaia. E sendo esta união que dá sentido ao momento, tentar destrinchá-las seria como dissecar um animal de estimação só para saber porque ele nos alegra.

Por isso não vou falar nada de hoje, porque são tantas coisas em conjunto, brincando em volta de mim, pulando no meu colo e fazendo festinha que irei apenas curtir o instante.

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