De tempos em tempos cai em minha mão algum livro que consegue transcender a simples fruição. Me dedico a ele, como quem busca desvendar uma língua, que já não sabem mais como lê-la, na crença firme de que lá se encontra a chave de um grande enigma; como se fosse aceito por um velho mestre oriental de centenas de anos, cujas palavras sempre estivessem carregadas da mais sublime sabedoria; ou como quem se depara consigo mesmo e sorri
Leio, paro, medito, releio, me encontro.
O texto deixa de ser algo externo e começa a fazer parte de mim, constrói uma visão da realidade, o chão em que começo a edificar minha morada, o espelho em que me vejo, um amigo com quem se dialoga constantemente, sem saber onde começa um e termina o outro.
Hoje comecei a ler "As cidades invisíveis" e me senti obrigado a fazer isso compulsivamente, como se tivesse andado muito tempo no deserto e encontrasse finalmente um oásis com água abudante para matar minha sede, li para ver a próxima frase e ter a certeza de que realmente havia encontrado algo que desejava, surpreendendo-me a cada novo capítulo, ao mesmo tempo querendo retornar todas as frases lidas para guardá-las melhor, pensá-las, desdobrá-las, ficar encaixando-as em centenas de possibilidades criativas.
Cidades maravilhosas construídas nos homens e que nos rodeiam, sem jamais poderem existir, em um relato fantástico de viagem, pois "o viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá"
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