quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Um Conto de Hamburgo

Há muito, muito tempo atrás, numa terra distante, viveu um jovem, que gostava de vagar pelo porto da cidade, que possuia mais de 700 anos de história. As vezes ele ia num bar utilizado por antigos piratas, e agora  tinha todas as cadeiras e mesas presas ao chão por enormes ferrolhos para impedir que se tornassem objetos voadores em meio a uma briga, o que deve ter entristecido muitos marinheiros bêbados. Neste antigo porto havia um velho navio veleiro usado no século XIX pelo governo alemão, transformado em escola de práticas navais para aspirantes a oficiais no final do século XX e que agora está aberto ao público para conhecer como eram os minúsculos espaços internos dos velhos navios, assim como outras curiosidades.

Havia nesta cidade muitos canais, talvez mais que em Veneza, ou logo atrás dela, não lembrava ao certo o rapaz. Em algumas ocasiões estes canais serviam de palco para peças de teatro flutuante, que davam a conhecer ao público tanto uma obra de Thomas Mann, como os segredos das vielas submersas. Sentado dentro de um barco ele pode, ao mesmo tempo, ter estas duas alegrias.

O rapaz muitas vezes ia aos restaurantes portuários comer uma iguaria local, o Labskaus, que era o prato dos antigos piratas e marinheiros e sua receita era basicamente de sobras, coisas que não estragavam depois de algumas semanas a bordo. Sua aparência de papa avermelhada, por conta das beterrabas, e um ovo estalado por cima não era muito convidativa, contudo o sabor era fantástico!




Mas a cidade também tinha parques incríveis e um jardim botânico muito antigo, que possuía uma estufa enorme com plantas tropicais raras, e, até mesmo no inverno mais gélido, era possível entrar lá e sentir todo o abafado de uma floresta tropical.

Por conta da antiguidade de suas construções o modernismo arquitetônico não tinha feito dela uma vítima da simplicidade das formas, podia-se ver muitas estátuas e adereços nas paredes dos prédios, conhecidas pelo estilo como Jungendstill - um tipo de barroco alemão - , muitos detalhes rebuscados de uma época onde se faziam as construções para deleite do corpo e da alma.

Neste lugar ainda era possível sentir a força do passado, e a importância das velhas instituições, pois sobressaiam, acima de todos os prédios, as antigas torres de igreja e, diferente de lugares como Nova York, o melhor ponto para se observar a cidade era no alto destes campanários e não de outras construções.

Em um de seus passeios pela cidade, andando de trem, o rapaz viu pela janela a enorme estátua do Otto von Bismarck - primeiro-ministro prussiano que uniu a Alemanha em 1871 -, ele já havia visto outras vezes ao longe, de passagem, mas desta vez resolveu vê-la de perto; parou na estação mais próxima e foi caminhando até lá; parecia inicialmente que não era distante de onde estava, mas se perdeu em meio a um bosque, que ele não percebera antes, quase como se  tivesse aparecido por mágica, e assim ele se encontrou andando num lugar que não tinha uma viva alma, num silêncio pesado.

Continuando sua busca, pela estátua ou pela saída, já não sabia mais qual, o rapaz começou a ouvir sons de pessoas alegres e música! Uma música que soava suave, mas cheia de vida. Começou a seguir o som e os burburinhos na esperança de chegar a algum lugar menos ermo, mas parecia ser levado para mais dentro do bosque. Imaginou-se num velho conto dos irmãos Grimm que devem ter andando por aquela região um dia.

Pessoas começaram a surgir da mata, umas poucas, mas o som parecia muito alto, e, depois de passar por mais um grupo de árvores do velho continente, deparou-se com uma grande festa no meio do bosque, em um descampado; um palco onde uma banda fazia sons 'new age' e muitas pessoas pela grama curtindo suas viagens, dançando, conversando, bebendo; e esquececido de sua busca pela estátua ou pela saída, ele também esqueceu-se de si ali...

2 comentários:

  1. Que lindo texto, me sinti em meio a um filme a la Guillermo Del Toro com um final mais alegre!

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  2. uhauahua

    tks

    Ainda bem que foi alegre, eu realmente me perdi bem ali...

    Mas fazendo um parênteses, eu acho os finais do del Toro ambíguos, como se o espectador pudesse escolher se será alegre ou triste, ou mesmo, os dois...

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